No começo da NEW-e, voltamos nossas atenções para a conversão de resíduo sólido orgânico (RSO) em biogás para geração de energia em uma microusina termelétrica. Ok! Uma visão técnica muito simples mas, que em 2012, era um tanto ousada e complicada, afinal, ainda não havia muita tecnologia elaborada adequada ao processo e, principalmente, extrair energia do “lixo” causou descrédito e até algumas chacotas na época.
Ouvíamos que se grande parte das pessoas ainda nem separavam o lixo reciclável, quem iria se interessar em separar o lixo orgânico? Ainda mais um tipo de lixo sujo, que junta bichos e não tem valor algum, quem vai se interessar?
Lá se vão 8 anos e, de lá pra cá, algumas coisas mudaram. Pode parecer estranho, mas o que descobrimos, no fundo, é que essas percepções estavam muito mais ligadas a nossa cultura decorrente da nossa educação do que com o trabalho e/ou o benefício de separar o tal do “lixo”.
Quem aqui nunca viu uma criança ouvir um advertência do tipo: “Larga! Solta! É caca. Sujeira. Joga fora. É Lixo.” Essa é uma das máximas da educação infantil.
Muito do que não queremos que as crianças toquem ou levem à boca, num gesto de cuidado e preservação natural que nós adultos temos com as crianças, acaba por criar uma associação direta entre lixo e aquilo que, além de sujo, não serve para nada.
O tempo passa e os aprendizados vão se cristalizando e a mensagem acima traz uma associação simples, mas que faz muita diferença. Além da relação depreciativa do que é sujo e que não serve para nada, criamos uma associação mental entre o jogar fora e o jogar no lixo para tudo. Duvida?
Na década de 80, um grande hits das paradas de sucesso no Brasil foi uma música de Sandra de Sá, e adivinha o nome da música? Isso mesmo, “Joga Fora”. Mas olha que interessante! Pra nossa "supresa", qual era o refrão? “Vou jogar fora no lixo”.
O detalhe é que a música não trata de resíduo sólido, mas de um relacionamento afetivo que teve seus perrengues. Logo, nossa educação mais singela, de fato, produz uma cultura de, digamos, dispensar no "lixo" tudo o que é sujo ou que não serve para nada ou que não tem valor e, por fim, o termo lixo passa a definir tudo que não serve, não tem valor e deve ser jogado fora.
Ok! Como queríamos demonstrar. Pegou a lógica? Jogar fora. Mas fora de onde?
Então, se a lógica de jogar no lixo é a de jogar fora, é importante definir fora de onde. É aí que podemos fazer uma análise ultra rápida e que nos conta muita coisa.
Seguindo a lógica, quando algo não serve mais para uma pessoa, o descarte que ela realiza é o de jogar fora. Digamos que ela esteja em casa, então, ela joga fora de casa, via lixo, que vai para a calçada ser coletado pelo serviço de limpeza urbana. A prefeitura pega o lixo e também joga fora, de preferência, dos limites municipais, ou seja, em outro município, nos aterros sanitários.
E o que o aterro sanitário faz? Jogado fora do planeta Terra, claro! No espaço sideral, né?! #SQN Eles enterram, isto é, colocam de fato dentro do planeta Terra.
Moral da história? Não existe jogar fora.
Porque aquilo que não serve mais para você não vai fora coisa nenhuma! Senão, fora das suas vistas e fora do seu alcance. O que em alguns é compreensível, mas que não justifica o jogar fora em questão.
Muito menos o seu fora vai para fora da Terra. Exceto num futuro distante, como nas ficções científicas que mostram alguns filmes, com “planetas lixões”. Então, recomendamos esquecer essa possibilidade, isso não é para agora, e até lá, já deveremos ter resolvido boa parte do problema de gestão de resíduos sólidos.
E porque fazer todo este raciocínio? Porque precisamos compreender a raiz do problema.
Este é um problema que está nos tirando muitas coisas, dentre elas o lugar em que vivemos, a Terra. Se isto não é suficiente para você, também está tirando o seu dinheiro e mais um pouco.
Não temos a ilusão de que vamos transformar a cultura e o modo como educamos as crianças sobre a caca/lixo. Mas acreditamos que podemos facilitar a compreensão de como reduzir a inércia da adoção de práticas de gestão de resíduos sólidos.
No momento em que vivemos, existem algumas motivações básicas para as pessoas fazerem determinadas coisas, uma delas é o dinheiro. Se você não vê valor no seu lixo, saiba que nós vemos.
Explicamos! Você paga sua conta de energia elétrica todo o mês ou já pagou uma nota por um kit de geração de energia fotovoltaica ou eólica.
Junto com essas, você produz, estatisticamente, 1,1 kg de resíduo sólido por dia. Desses, aproximadamente 60%, 0,66 kg, são de resíduos sólido orgânico.
Resumo da ópera! Pagando sua conta de energia elétrica ou comprando ou kit de geração de energia, você continua produzindo seu resíduo sólido e despachando ele na calçada.
É quase, literalmente, o mesmo que jogar dinheiro pela janela.
Pode não ser muito, mas ao longo dos meses e dos anos, isso dá uma boa grana. E pode ser mais ou menos, vai depender do seu estilo de consumo.
Sim! O perfil dos produtos que você consome pode impactar essa conta.
Acontece que, desde a Revolução Industrial, a produção em escala gerou sobras de matérias primas decorrente da busca por um padrão produtivo. Com o passar do tempo, a busca por mais produtos industrializados aumentou a produção, as sobras e gerou novas sobras.
A medida que as pessoas se acostumaram a adquirir bens frescos e/ou produtos novos, o cuidado com o uso dos itens adquiridos foi reduzindo aos poucos, já que, mesmo custando dinheiro, comprar novamente poderia garantir outros benefícios. Logo, a nova sobra emergiu das mãos dos consumidores em suas casas.
Passado mais um tempo, com a chegada das crises econômicas do século XX, havia uma necessidade de manter a máquina econômica aquecida. Isto é, com empresas fabricando e vendo e pessoas comprando.
Entra em cena uma das ideias salvadoras do o mundo que conhecemos hoje: a obsolescência.
A partir desse momento, a indústria de bens de consumo passou a estipular o tempo de vida de cada produto. O resultado? As sobras nas mãos dos consumidores foram aumentando significativamente.
Mas foi o avanço das tecnologias, do número de produtos, do marketing e da distribuição à distância que elevou ainda mais essa sobra nas mãos dos consumidores finais. Além do maior número de produtos, as embalagens dos produtos aumentaram vertiginosamente as sobras.
Por fim, a explosão demográfica em todo o mundo durante o século XX aumentou o compra de produtos industrializados, afinal, somos uma sociedade industrial e de consumo. Mas o problema em si não está aí!
Viver a vida assim se justifica por ser a busca de uma melhor qualidade de vida. Entretanto, a gente precisa cuidar daquilo que está estragando o lugar onde vivemos e também está desperdiçando o nosso dinheiro. Lembre-se disso, se o planeta não for importante para você. Ok!? ;) #ajudaagente
Talvez a salvação esteja na educação, veja só! Mas talvez seja ainda mais simples do que você pensa, por não estar em um novo modelo de educação, mas em uma parte que já recebemos há muito tempo, só que com bem pouca ênfase.
Quem nunca ouviu algo do gênero: “Usou, coloca no lugar”? Pois então! Não é exatamente isso que acontece na indústria.
A industrialização usa uma série de insumos para fabricar e colocar produtos no mercado. A questão é que os insumos vem da natureza, estão presentes disponíveis de alguma forma na natureza, como se estivessem, digamos, em uma "prateleira".
Ocorre que a indústria pensa a fabricação dos produtos mas não pensa a “desfabricação” dos mesmo produtos. Isto é, os insumos são usados, mas depois não voltam para seus lugares na natureza.
Pois há alguns anos, existe uma corrente de pensamento técnica que afirma que isso configura um erro de design. Os produtos são criados por metade, no caso, o projeto é pela metade, porque não prevê a desmobilização e a devolução dos insumos, em seu estado natural, na natureza, ou, ainda, em outra cadeia produtiva.
É como se os insumos caíssem do caminhão de mudança e ficassem ali, perdidos no meio do caminho, sem conseguir voltar ao seu local de origem.
Quando o tal do lixo começou a virar um problema de armazenamento, contaminação, entre outras mazelas, surgiu a compreensão de que era necessário gerenciar essa montanha crescente de resíduo sólido em todo o mundo. As primeiras propostas surgiram como uma alternativa de conduta para as organizações e para a sociedade, mas custavam caro e não muita gente reclamando.
Mas o problema e as consequências aumentaram e começou a ter gente reclamando. Então, a gestão de resíduo sólido passou a ser uma tendência para as organizações e a sociedade, onde os mais engajados e conscientes davam o exemplo para os demais assumindo seu dever em prover uma saída adequada para as sobras que emergiram do nosso estilo de vida.
Ocorre que, num determinado ponto da curva de tempo, só uma alternativa ou uma tendência não resolviam o problema que só seguia crescendo, e que vai continuar crescendo, o que levou ao próximo passo: a exigência. Compreendendo o tamanho e a complexidade do problema, começaram a surgir as primeira leis para regulamentar as questões referentes aos resíduos sólidos.
O aprimoramento natural das leis e do aumento do conhecimento sobre as práticas e soluções possíveis levou à gestão dos resíduos sólidos como prática prevista em política pública, em diversos países e aqui no Brasil. Outra exigência é a que resolve uma parte do erro de design, que é a chamada logística reversa, para a qual também existe legislação.
Então, se você ainda não percebeu, aquilo que você chama de lixo, além de não ir fora, tem valor para alguém depois que você já usou. É isto que faz com que sei "lixo" deixe de ser "lixo", porque ele serve para alguma coisa e merece ser tratado com atenção.
Você pode não notar ou não acreditar, mas tem uma galera empenhada em resolver esse problema.
Eles estão usando desde soluções realmente simples até soluções bastante complexas, baseadas em muita ciência e tecnologia. No fundo, o que está em curso é o nascimento de uma nova conduta e um novo segmento de negócios que descartam devidamente ou reinserem adequadamente na cadeia produtiva os resíduos sólidos que produzimos .
Cada vez mais, seu lixo vai deixar de ser lixo. Não será uma questão de concordância, será uma questão de conveniência, seja para salvar o planeta, para reduzir ou fazer dinheiro ou para evitar penalidades.
A única saída possível nos próximos anos, é começar a gerenciar seus resíduos sólidos. Conta com a gente!
Avante!
Conteúdo: Carlos Sonier do Nascimento e Tainan V. Caballero
Redação: Tainan V. Caballero
Imagem: jackmac34/Pixabay
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